Madrinha do 1º Conseg Jovem do Paraná, sua história e verdade 19/11/2012 - 15:20

Vera Maria Biscaia Vianna Baptista, protetora, auxiliadora, guia, símbolo de dedicação a causa de crianças e jovens, esta é Madrinha do 1º Conseg Jovem do Paraná, fundado no Município de Primeiro de Maio, ao norte do Estado, no dia 02 de março de 2012.

No Centenário do Corpo de Bombeiros do Paraná, em solenidade realizada no dia de 09 de novembro de 2012 é então homenageada com o Diploma de Amiga do Corpo de Bombeiros do Estado, representada por Maria Lucia Vianna Baptista.

A então sobrinha neta do 1º Comandante da Instituição Major Fabriciano de Rego Barros, a Escritora Vera Maria, de origem curitibana conta suas origens que perpassam a própria História do Estado do Paraná ao lado do Esposo Dr. Milton Vianna Baptista.

Em sua obra A longa viagem perto de casa, encontra sua verdade nas palavras de Roa Bastos:

“Se a eternidade tem alguma forma, deveria ser a gratidão. Agradecer é reconhecer as mãos dos demais na construção da nossa vida. É um gesto gratuito e ao mesmo tempo a raiz de todos os nossos valores”


Sua história de vida e chegada a então colônia de Primeiro de Maio, é assim contada versos pela filha Anna Maria, que brinca: “sou à bebê a pioneira”

Vera Maria nasceu, cresceu e formou-se professora primária na década de 40 aos 16 anos pelo Instituto de Educação do Paraná, em Curitiba.

Era a mais velha de 4 irmãos.

Vivia numa grande família, pais e irmãos, cercados da avó portuguesa e de bondosos casais, tios que também tinham sotaque.

Pessoas unidas por laços afetivos d'além-mar, com muita prosa somada aos aromas de quitutes caprichados. Dividiam tarefas e disciplinas diárias cumpridas ao som dos passos rápidos batucados no assoalho de madeira e ao dedilhar 'alegro-andante' do piano da tia Isaura.

Era, pois, pois, uma casa portuguesa com certeza.

A delicada Tia Isaura foi tão especial e referência tão forte na formação de Vera Maria, que muitos anos mais tarde, após seu falecimento, dentro desta atmosfera lúdica, rigorosa e feliz, que sempre a norteou, Vera Maria fez a devida homenagem à ela dando seu nome ao Centro de Recreação Tia Isaura, que fundou em 1967, em Primeiro de Maio.

Tia Isaura não teve filhos, mas deste modo seu nome ecoou durante muito tempo entre as crianças da cidade.

Para a jovem e saltitante professora Vera, noções de cultura, educação e cidadania sempre foram prioridades.

Quando conheceu seu marido, o médico recém formado Milton Vianna Baptista, sentiram que, tão grande quanto o amor que os unia vibrava neles também o  mesmo ideal de tornar o mundo melhor.

Acreditaram nisto e procuraram o caminho da roça.

Bem longe de Curitiba, bem diferente do clima frio e elegante da Capital, no Norte do Paraná, Milton encontrou uma região populosa onde a precariedade social era grande em contraste com a paisagem imponente e fértil.

Não havia médico, nenhum recurso na área da saúde.

Milton queria ser um médico de interior, como achava que deviam ser os médicos - trabalhar, e muito, onde fosse útil e necessário.

E foi assim que começou a história da Madrinha do 1º CONSEG JOVEM DO PARANÁ.

A professora Vera Maria e o Dr. Milton chegaram ao Vilarejo de Primeiro de Maio em 1949, com a filhinha de colo Anna Maria. Foram pioneiros.

Vieram de 'pé-de-bode' pela estrada da boiada, na terra vermelha, uma das terras mais férteis do mundo, hoje transformada em Polo Turístico às margens da Represa de Capivara, no Rio Paranapanema.

Foi o início de um belo e árido percurso construído com muito amor e trabalho em prol da comunidade, na tentativa de afastar o subdesenvolvimento contra o qual Vera Maria reage até hoje.

Todo começo é difícil, é verdade.

Naquele tempo mais ainda!
Mas o casal encarou a realidade e arregaçou as mangas.

Dr. Milton, Vera e seu bebê, foram morar numa casinha alugada e, como todas as casinhas dali, sem qualquer conforto.

Era água de poço, banho de canequinha, luz de vela, fogão à lenha, ferro de passar aquecido a brasas.

A sala virou consultório e o trabalho era de sol a sol.

Nas madrugadas chamavam o Dr. Milton para ir à cavalo atender os doentes nos sítios e receber as crianças que vinham ao mundo pelas suas mãos, como ele gostava de dizer.

Ele as recebia, na maioria das vezes em situações seriamente precárias, insalubres, mas com muita competência e dignidade, como recebeu a atual Presidente do Conselho Comunitário de Primeiro de Maio, Aparecida Benito Pereira.

Nos 10 anos que se seguiram naquela pequena casa, o casal teve mais 5 filhas.
Elas cresceram assistindo de perto o desassossego e a dor dos que ali chegavam à procura de socorro.

A taxa de desnutrição e de mortalidade infantil era altíssima e o Dr. Milton sentia a necessidade de implantar melhores serviços para a comunidade.

Em 1953 conseguiu, junto ao Governo do Estado, a construção do prédio do Posto de Puericultura. Implantou também o Posto de Saúde.

Em 1960 conseguiu terminar a construção do seu Hospital, onde Vera Maria o auxiliava nos cuidados com a enfermagem e a administração.

Companheira, atenta a tudo e sempre ao lado do marido, a Madrinha do 1° Conseg Jovem do Paraná também sentiu necessidade de ampliar sua área de atuação: uniu esforços planejando ações integradas comunitárias com os recursos existentes na área médico-sócio-psico-pedagógica.

Em 1965, para revitalizar o funcionamento do Posto de Puericultura que havia sido fechado, Vera fundou a APMI- Associação de Proteção à Maternidade e à Infância - dirigida por senhoras voluntárias da comunidade local. A APMI supervisionava e administrava o Posto de Puericultura, para manter o atendimento.

Em 1967 Vera Maria entrou na área de Educação Especial e fundou a APAE e a NEECE- Nossa Escolinha de Educação Especial - para crianças com necessidades especiais, que em 1999 a homenageou com seu nome: Escola Vera Maria Vianna Baptista.

Foi também em 1967 que nasceu o Centro de Recreação Tia Isaura, e dentro dele o Clube de Mães - cujo objetivo era combater a fome, a ignorância e a quantidade de doenças das crianças de 0 a 6 anos provenientes da falta de conhecimento das mães.

Em seguida convenceu os grupos escolares estaduais e municipais a participarem do projeto que tinha como meta - a detecção de distúrbios no desenvolvimento da criança e a melhoria da saúde infanto-juvenil.

Conseguiu assim, através da 'educação compensatória', conscientizar e expandir o atendimento para crianças e jovens também dos 07 aos 18 anos, e prevenir a marginalização do menor.

Estava criado o CEMIC - CENTRO DE ESTUDOS DO MENOR E SUA INTEGRAÇÃO À COMUNIDADE.

No CEMIC havia um centro de estudos com atividades agrícolas, domésticas, esportivas, de artes e ofícios, como a Liga dos Engraxates e a Guarda Mirim onde todos tinham atividades em período integral/ contra turno.

Vera Maria também conseguiu que o Governo do Estado ampliasse a construção do Posto de Puericultura para atender a todas as entidades.

Através de convênios entre a APMI, o Departamento Estadual da Criança e o Ministério da Saúde puderam manter os programas em pleno funcionamento com a cooperação das próprias mães no controle da saúde, crescimento e desenvolvimento de seus filhos.

Nesta época Vera Maria, embora ainda não tivesse feito curso superior, já era de corpo e alma, uma assistente social. E atuava como tal.

Sua sensibilidade e necessidade de oferecer melhores condições de vida à população a impulsionava cada vez mais.

Na década de 70, enquanto algumas filhas deixavam de ser crianças e outras já se tornavam mães, a vovó Vera entrou na Faculdade de Serviço Social. Estudava em Curitiba enquanto trabalhava em Primeiro de Maio, fazia provas ao mesmo tempo que cumpria seus compromissos no Hospital e nas entidades que dirigia.

Superando desafios contínuos e cada vez mais unidos pela próspera causa que combatiam, o casal Vera Maria e Milton se alistou com energia no movimento de ação social que ganhou força no Brasil na década de 70.

Vera Maria formou-se na PUC- Pontifícia Universidade Católica do Paraná em 1975.

Em 1976 criou o projeto Criança Urgente I e em 1979 o Criança Urgente II sempre visando a totalidade da formação de um e de todos os indivíduos em todos os seus aspectos, na esperança de capacitá-los e encorajá-los a continuarem construindo um mundo melhor, a partir de si próprios e na sua comunidade.

Em 1980, recebeu o Premio Eloi Chaves de Monografias sobre Medicina Social para Aplicação na Previdência Social com o projeto entitulado:

Projeto Comunitário Integrado de Assistência Materno-Infantil.

Em 1984 Vera Maria assumiu o cargo de assistente social do Posto de Saúde de Primeiro de Maio, nomeada pela Secretaria Estadual de Saúde Pública.

Em 1989 especializou-se em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz.

Continuou trabalhando com Milton no Hospital e Maternidade São José (que haviam fundado em 1960) até 1992, quando encerraram suas atividades.

Ficou trabalhando no Setor de Epidemiologia no Centro de Saúde de Primeiro de Maio até 1997.

Daí em diante resolveu dedicar-se à escrita.

Em 2002 lançou seu primeiro livro "Os Curitibanos dos Campos Gerais" resultado de anos de pesquisa sobre as raízes dos antepassados de Milton e dedicado à família Vianna Baptista.

Em 15 de março de 2011, aos 90 anos, Milton deixou este mundo numa imensa manhã brilhante e azul, como eram seus olhos,
e foi iluminar outras esferas.

Mesmo com o coração partido Vera Maria, apoiada pelas filhas, netos e bisnetos, cumpriu outra responsabilidade assumida: lançou o segundo livro "A Longa Viagem perto de Casa", onde retrata suas origens.

Na noite de 30 de agosto de 2012, em Primeiro de Maio, por puro acaso, força do coração e a vontade de se superar, Vera Maria foi a uma palestra ministrada pelo Dr. Carlos Alberto Peixoto Baptista, então Coordenador Estadual de Políticas Públicas de Combate às Drogas.

E como num passe de mágica, após dar seu parecer sobre o assunto, foi naquele mesmo instante surpreendentemente nomeada, com todo mérito e reconhecimento Madrinha do 1º Conseg Jovem do Paraná.

Vera Maria e Milton são pessoas raras.

Dedicaram suas vidas à construção de um mundo melhor, imbuídos de muito amor e desprendimento.

Seu exemplo de vida deve ser divulgado de todas as formas possíveis às
novas gerações que sonham, amam e encaram desafios e dificuldades como
provas de fortalecimento e de grandeza.

Quando Tolstói escreveu:

"Se queres ser universal canta a tua aldeia”, há 200 anos atrás, não imaginava esta aldeia global interconectada e superpopulosa dos dias atuais.

Mas a voz dos jovens da 'aldeia' de Primeiro de Maio, com os instrumentos
tecnológicos e o altruísmo que têm em seus corações, certamente cantarão
e serão aplaudidos universalmente pelo projeto fundado numa noite iluminada, em Primeiro de Maio, que fará jus ao legado que recebem da sua Madrinha do
1º Conseg Jovem do Paraná, Vera Maria Biscaia Vianna Baptista.


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